Última palestra da CRES+5 aborda universidade e sociedade
Encontro discutiu importância da descolonização e garantia da liberdade e autonomia das instituições de educação superior para um novo modelo na América Latina e no Caribe.
Nesta sexta-feira, 15 de março, a última palestra da CRES+5 — reunião de prosseguimento da III Conferência Regional de Educação Superior da América Latina e Caribe (CRES) —, abordou o papel da universidade na sociedade atual. O debate encerrou o ciclo de palestras sobre a educação superior na América Latina e no Caribe, que acontece desde quarta-feira, 13 de março, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB), em Brasília (DF).
Em sua palestra, o professor José Geraldo de Souza Júnior, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), buscou mostrar a necessidade de as instituições federais de educação superior passarem por um processo de descolonização, afastamento ou readequação dos conceitos de ensino, que são fundamentalmente ocidentalizados. Segundo ele, tais ações servem mais a interesses mercantis do que a interesses sociais, além de excluírem diversos conceitos de educação, como os de lideranças indígenas ou afro-caribenhas, mais próximas dos segmentos sociais excluídos ou desconsiderados pelo modelo atual de educação superior na região.
Na avaliação do ex-reitor, o processo colonialista é o ponto histórico que une os países da região, e essa relação se reflete no funcionamento das instituições e nos currículos. Segundo ele, para vencer essa realidade, será necessário aproximar os conceitos de educação superior da realidade e dos conhecimentos dos povos da região, criando uma universidade com a cara, as referências e os saberes que refletem a realidade do povo, com suas dificuldades, origens, misturas. O ex-reitor destacou, ainda, que as necessidades dos povos da região são muito diferentes das dos povos colonizadores; por isso, defende a construção de um modelo de educação superior necessário e emancipador.
Outro aspecto abordado por Souza Júnior é a necessidade de preservar as instituições de educação superior da ganância do mercado, interessado em promover a mercantilização do ensino. De acordo com ele, isso torna a educação um serviço comercial, regulado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o que atende aos interesses do ultraliberalismo de mercado.
Por fim, defendeu que é fundamental a preservação da liberdade de ensino e a autonomia universitária, que vêm sofrendo graves ameaças na região, ao ponto de levar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos a estabelecer princípios sobre a liberdade acadêmica.
CRES+5
A reunião de acompanhamento da CRES 2018, chamada de CRES+5, tem como público-alvo reitores, diretores, acadêmicos, trabalhadores, estudantes, redes de ensino superior, associações, profissionais, centros de pesquisa, sindicatos, representantes de organizações governamentais e não governamentais e todos os interessados na educação superior no continente.
Entre as atividades preparatórias para a reunião, foram organizadas diferentes instâncias de debate aberto e participativo, como parte do processo de construção metodológica do evento. Ao longo de 2023, ocorreram reuniões presenciais em Córdoba (Argentina), Puebla (México), Assunção (Paraguai) e Havana (Cuba). Além disso, foram realizadas consultas públicas virtuais preparatórias, a fim de debater e coletar informações sobre os 12 eixos temáticos da CRES+5, bem como contribuir para a realização da Conferência.