Desafios de um novo modelo de Educação Superior
Participantes da Cres+5 debatem desafios para levar o ensino superior e a integração regional na América Latina e Caribe a uma situação de igualdade e equânimidade.
O segundo dia da Cres+5, encontro de acompanhamento da Terceira Conferência Regional de Educação Superior, foi marcado pelo debate sobre a integração regional da América Latina e Caribe, e a construção de um ensino superior mais igualitário e equânime. Nas reuniões setoriais, seis eixos temáticos foram analisados: Precarização da profissão de professor, os efeitos da COVID na educação superior, mulheres na educação, financiamento e governança, autonomia das universidades e o futuro da educação na América latina e caribe.
Os debates apontaram a necessidade de esforços dos governos, por um longo período, para que seja possível recuperar a educação aos níveis pré-pandemia, e, em um segundo momento, melhorar as condições de trabalho e remuneração dos profissionais de educação para atrair profissionais capazes e incentivá-los a permanecer na sala de aula. Na avaliação dos participantes dos debates é preciso, ainda, garantir o espaço da mulher, hoje majoritária na educação, combatendo discriminação e ameaças ao exercer a profissão.
Sobre a autonomia das instituições de ensino superior, a avaliação é de que só poderá ser alcançada com financiamento público garantido em lei, o que permitiria uma mudança real no modelo de educação superior da região. Para o Subsecretário de Educação Superior do Chile, Victor Orellana, “a mensagem para a América Latina é que o mercado não é a resposta para os nossos problemas, mas sim a garantia do direito à educação, o que não implica replicar modelos de universidades públicas de outros momentos históricos. Hoje necessitamos, por exemplo, de financiamento mais moderno, no sentido de melhores instrumentos para inserir no sistema, exigimos uma ligação mais eficaz entre o desenvolvimento produtivo e o conhecimento, exigimos uma maior relação entre a nossa oferta académica e as necessidades sociais, culturais e produtivas dos países. Estamos caminhando nessa direção, não é fácil sair de um modelo que coloca o lucro como principal motor do ensino superior. Pedimos ao continente um acordo sobre o direito à educação e a vinculação do ensino superior com desenvolvimento para além das bandeiras políticas. Garantir o direito à educação e assumir que o ensino superior é um bem fundamentalmente público e não um bem de mercado, não é uma bandeira de um setor, é um consenso internacional, é um consenso que foi alcançado com muito esforço, do qual participam governos de diferentes grupos políticos. Trazemos essa mensagem, para aumentar nossa vocação latino-americana, como foi solicitado pelo presidente Boric, aumentar o nosso compromisso com a América Latina e fazer parte deste processo que esperamos conduza os nossos países ao desenvolvimento”.
A Professora Nilma Lino Gomes, ex-ministra das mulheres, igualdade racial e direitos humanos, destacou em sua conferência, que é possível pensar em um modelo de educação superior diferenciado respeitando e incluindo os conhecimentos e saberes de importantes segmentos da sociedade, como lideranças indígenas, afro latino americanas e caribenhas, especialmente dentro de um cenário de pleno estado democrático de direito. Mas ela ressalta que não é tarefa fácil, num momento em que movimentos conservadores e retrógrados da sociedade, em diversas partes do mundo, vem se fortalecendo e promovendo o enfrentamento com os setores progressistas da sociedade civil, como ocorre aqui no Brasil. “A sociedade está polarizada, como nós temos visto vários analistas falando. Uma polarização que eu vejo chegou, num certo ápice, porque ela tem uma representatividade política no Brasil, que antes não tinha, da forma que nós temos hoje. No fundo, se considerarmos que somos uma sociedade com passado colonial, escravocrata, de tentativa de genocídio indígena, o que hoje chamamos de polarização, são concepções que sempre existiram, mas que estão articuladas com fundamentalismo de mercado, fundamentalismo religioso, uma grande mídia hegemonica, e por representatividade política.
Nova rede para políticas de educação superior
A UNESCO IESALC realizou, nesta quinta feira, dentro da Cres+5, a primeira reunião da Rede de Formuladores e Gestores de Políticas de Educação Superior (RedPES) da América Latina e do Caribe. Essa nova instância reúne representantes de alto nível dos sistemas de ensino superior da região para discutir desenvolvimento político no sector, comparar experiências, ideias e boas práticas, estabelecer ligações e construir colaborações com pares internacionais.
O encontro estabeleceu as bases para o lançamento do RedPES, discutindo as prioridades dos membros, áreas de interesse e formas preferidas de participação. Foi apresentado também o Hub de políticas de educação superior, um portal dinâmico da UNESCO IESALC, que oferece um conjunto de ferramentas e recursos para formuladores de políticas e partes interessadas no ensino superior, com uma cobertura que abrange mais de 150 países, bem como acesso a uma série de publicações de análise e links para podcasts e reuniões relacionadas a matérias de políticas.
Na avaliação de Dameon Black, presidente do Conselho de Governo da UNESCO IESALC, “Esta é uma excelente iniciativa. Proporcionará um fórum através do qual informações e aprendizados valiosos poderão ser compartilhados em benefício dos sistemas de ensino superior da América Latina e o Caribe. A UNESCO IESALC deve ser elogiada.”
Encerramento Cres+5
Nesta sexta feira a Cres+5 chega ao seu último dia com o Fórum de Políticas de Educação Superior e devem se reunir em plenária para a redação do documento final do encontro, com as análises dos avanços conquistados desde 2018, e as propostas para a construção de um novo modelo de educação superior para a região da América Latina e Caribe.